quinta-feira, maio 14, 2020

A Raiva – Uma Revisão Bibliográfica - Parte 3: na Psicossíntese – Parte B – Psicossíntese: Manual de princípios e técnicas – de Dr. Roberto Assagioli


Se você não leu as Partes anteriores, pode ler adiante e de forma independente das outras Partes.


O texto aqui exposto, se propõe a estar como um resenha relativa ao livro “Psicossíntese: Manual de princípios e técnicas”, escrito por Dr. Robeto Assagioli, no que ele discursa sobre catarse, raiva e agressividade – então, aqui enfatizamos o “Capítulo IV – Psicossíntese Pessoal: Técnicas”.


Roberto Assagioli descreve um conjunto de técnicas que desfazem energias em excesso como liberadas por consequência da “exploração do inconsciente” e eficientes no lidar com a energia emocional excessiva (p. 115).


A “catarse”, importante no processo psicanalítico, foi abordada por Freud que descobriu que a “passagem para a consciência de um conteúdo inconsciente” e “a descarga emocional” conjunta dessa passagem, cura – que em outras palavras está como “a eliminação de sintomas” (p. 115).


R. Assagioli, nos mostra uma primeira técnica envolvendo a “catarse” - no livro base desta resenha - chamada de: “Reviver a Situação” - na qual o que ocorre está como auto descrito, a revivência, o reexperimentar de uma situação (passada).


O paciente, deve, e é orientado para viver novamente o evento que causou o distúrbio emocional, fazendo assim uma “descarga psicossomática” e esse procedimento deve se fazer novamente até que a carga emocional diminua e culmine no desaparecimento da mesma (p. 115).


Ao interpretar o trecho explicado acima, não está explícito, propriamente dito ou de modo concreto que essa técnica está como indicada para lidar com a raiva, suas variantes ou mesmo com a agressividade, mas fica subtendido, entendido implicitamente, que pode se utilizar esse procedimento/processo para casos de distúrbios relacionados a emoções negativas – tendo sua máxima eficiência em situações em que houve uma “experiência traumática bem definida” ou “tensão emocional prolongada” (p. 116). A limitação desse exercício ocorre, por seus efeitos constituírem em desfazer apenas alguns sintomas, não eleminando as causas dessa carga, assim não constituindo em cura.


Essa prática funciona melhor na situação do paciente estar no divã, relaxado, com os olhos cerrados, não vendo o “filme” da vivência como “de fora”, mas ”de dentro” do evento vivido, como uma ator “em” um filme. O paciente não deve buscar o controle durante essa experiência, deixando se livre para (re)vivenciar o acontecido, de modo fluído e integralmente como um todo em termos temporais: início, meio e fim – e de qualquer dos cinco sentidos estimulados no evento original, assim como um sentimento, se esse esteve presente na experiência primária (p. 116).


Encerra se o assunto de reviver a situação, colocada brevemente e parcialmente sobre como utilizá-la para “eventos futuros” e segue-se para a “Expressão Verbal”, também como técnica de “catarse”. Essa catarse acontece – às vezes de modo espontâneo - em momentos em que uma pessoa por uma situação ruim e está compulsivamente relatando essa situação, o que efetiva-se como um “processo autoterapêutico” - descarregando a emoção (p. 117). Esse mesmo comportamento, de verbalizar repetidamente sobre um momento de desconforto ou angústia, pode funcionar como uma forma de adquirir atenção ou demonstrar importância. Mas mesmo se a pessoa a utiliza com esse intuito, a emoção descarrega mesmo assim, e essa atenção, adquirida, dos outros está como terapêutica. Contudo existe um ponto, um momento, em que se vale de parar esse comportamento – de repetição do mesmo conteúdo-, quando uma “verdadeira descarga” não acontece e essa forma de agir está como “um impulso – numa atitude de autocomplacência masoquista” - para buscar interesse e atenção (p. 117).


Assagioli rapidamente discorre sobre a utilização da escrita como terapêutica, como “catarse”- exemplificando o de escrever uma carta – como meio de descarregar a emoção, de raiva – e entregando a para o terapeuta ou, mesmo, queimando-a – produzindo uma “satisfação simbólica”.


Estende-se sobre a escrita, mas mais particularmente sobre a de um diário, como descarga ou, em outra palavras, como “catarse” - além de outros benefícios que se tem em escrever em um diário e mostrar seu conteúdo ao terapeuta.

 

Um outro processo catártico considero no capítulo base desta resenha, está a “Descarga Muscular”. Método que está na categoria de transmutação, mas por estar como simples, apresenta-se neste capítulo – e que funciona para lidar com a agressividade e tem, assim como, a técnica de escrever uma carta, uma “satisfação simbólica”.


Em “distúrbios neuróticos” pode-se usar muitas técnicas com resultados positivos, se o paciente está adequado e apto ou pode colocar-se apto pelo terapeuta para estar consciente das suas escolhas de ação, estar também desidentificado, em outras palavras, como um observador de si mesmo – assim em uma situação em que ele tenha consciência da escolha de seus atos e, dentro do possível, com humor.


Assagioli conta-nos um exemplo em que um jovem tinha ataques de raiva e agressividade “quebrando móveis de sua casa” e um fobia. Ficava com muita raiva de sua fobia.

 

No início desse exemplo, o paciente disse ter controle sobre sua raiva e agressividade, até um primeiro momento, depois, passado este, ele perdia o controle de seu comportamento. Foi dito, então, que o paciente separasse “objetos ou material para destruir” – e assim foi escolhido um conjunto de “velhos catálogos telefônicos” (p. 119).


Assim no primeiro momento de raiva, quando ainda estava no controle, rasgou os catálogos, pegando várias folhas de uma vez fazendo desse modo “a exigir maior esforço muscular” e tomando uma atitude de humor em relação a essa ação e estando consciente de estar descarregando sua agressividade (p. 119). Repetiu esse padrão para lidar com a raiva, com resultado satisfatórios, deixou de “quebrar móveis” e quase no final de seu atos, começou a rir, achando-os ridículos (p. 119). Nesse processo sua fobia arrefeceu-se e desapareceu. Nota-se que esse medo, a fobia, poderia estar como uma punição inconsciente infligida a si mesmo causada pela culpa que sentia.


O texto segue com algumas considerações sobre o exemplo acima, aborda desvantagens de algumas dessas técnicas e continua, sobre técnicas de catarse, expondo sobre a “Análise Crítica” que por sua complexidade e necessidade de conhecimento mais avançado da Psicossíntese, para a compreensão satisfatória disso, deixaremos de fora desta resenha.

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