Frater Magick pega os livros, fichas de personagens, escudo do narrador, mapas feitos em papéis quadriculados, papéis em branco e alguma lapiseiras, borracha, além de dez dados de dez faces – lembrando uma Árvore da Vida dentro de uma das Esferas.
Coloca tudo em uma grande mesa, organiza seis cadeiras, desliga a lâmpada geral, deixando apenas um abajur iluminando levemente a sala, enquanto as leves sombras adentram ao local. O sol já está se pondo e o dia findando.
Coloca o escudo bem apoiado, guardando os mapas e personagens do narrador, atrás dele, além de algumas anotações, feitas nas folhas em branco, distribui as fichas perto de cada cadeira, espalho o resto do material.
Nisso toca a campainha. Ele atende: o primeiro jogador chegando – um careca alto de óculos estiloso vestindo um terno cinza, um caoísta inspirado em King Mob, que tem o apelido de GM, por que mestrava GURPS[1].
Eles e cumprimentam e vão entrando quando chega o Werecara, o maior fã que eles conheciam de Lobisomem[2], tinha uma tatuagem de uma criatura dessas nas costas.
Eles começam as conversas, Frater M. fecha a porta e eles adentram a sala de visitas. KM começa a falar: “Acabei de ler um livro muito legal... mas vocês não iriam entender... mas vou tentar explicar...”.
Os três ouvem o barulho do portão e em alguns segundo chega o computerfreak, um nerd meio punk, fissurado em pcs e jogos eletrônicos, que gosta de usar blusas dos Ramones, muito antes disso virar moda. Ele, era o PC, irmão de F. Magick. Ele logo tira a mochila e abre a “bolsa de espaço infinito”, trazendo salgadinhos dos mais diversos e bastante coca-cola.
Quase um pentagrama, pensa F. M. – nisso os atrasados do grupo ainda deveriam chegar, como sempre.
O caoísta começa com aquele papo de Carlos Castañeda e outras histórias malucas, desses livros de xamanismo. F. M. consegue entender um pouco, mas não tem paciência para algo tão vivencial, gutfeeling (visceral) e nada cerebral, bem diferente dos sistemas cabalísticos e herméticos.
Frater pede ao grupo para sentar e escolher os personagens. Iria ser uma aventura one-shot de MAGO: A Ascensão, ou melhor, como sempre, baseado em MAGO, pois ele, como que por pequena influência do Caos, as coisas poderiam ser muito diferentes de um jogo tradicional, sem seguir ao pé da letra os manuais e sem “advogados de cenário”.
Magick confere as coisas na mesa, lembra e traz: seu tarô, miniaturas de chumbo e o netbook – esse último para rodar a trilha sonora do jogo.
Os outros dois tentam entender GM, até FM encerrar o papo: “o resto da galera está demorando. Vamos ouvir alguma coisa aqui até eles chegaram ou vocês entenderam KM.” (risos).
Ele liga o “net” e deixa rodando Enya. Nisso PC e Werecara, cansam um pouco de Mob e: “Ô, de casa!” – era o trevoso, gótico que demorava a acordar no domingo, por ter virado a noite em alguma balada.
FM, o hermético de carteirinha, com ao menos alguma flexibilidade devido a amizade com King, deixa Dark Master entrar, mas olha torto, pelo atraso.
Agora só faltava um jogador para completar o grupo, o pentagrama estava lá, quase um hexagrama. O mais novo de todos ali, que nunca tinha jogado esse troço esquisito. Um cara normal que decidiu se meter nesse grupinho eclético.
Os personagens já estavam prontos, desde o fim de semana passado, o qual Magick gastou oito horas, no sábado, criando e mais cerca da mesma quantidade tecendo a estrutura da aventura, durante o domingo. O iniciante já tinha passado da margem de tempo comum deles começarem e ainda teriam que explicar que diabos aquela sigla significava em português, como tudo funciona, mas Frater simplificou as coisas, construindo um papel de uma pessoa que ainda iria Despertar, que ainda iria ter o Véu Rasgado, assim ele poderia entender as complexidades às gotas e pitadas, sem muita explicação fora do jogo.
A campainha não toca, mas o celular sim. PC atende, era o cara que estava para ser “Iniciado” no “grande jogo”. Tinha errado o caminho e buscava explicações de como chegar lá na turma o mais rápido possível, pedindo mil desculpas. Paulo fica com pena dele e o ajuda o suficiente para ele chegar em uns cinco minutos.
Com todos lá, Frater Magick entra no centro “Círculo” e abre com o “Ritual do Pentagrama”, banindo todo barulho que poderia afetar a concentração da mesa. A essa hora o sol estava terminando de se por e as trevas, ainda leves, se alongavam na sala.
[1] Generic Universal Role-playng Game (Sistema Genérico e Universal de Interpretação de Papéis)
[2] Werewolf: The Apocalypse (no original)
Nenhum comentário:
Postar um comentário