“Mente Zen, mente de principiante”, escrito por Shunryu Suzuki, está como um clássico espiritual moderno. Ele aborda desde instruções do zazen até a vivência da não dualidade.
Prefácio
Shunryu Suzuki, diferente de Daisetez Suzuki, não enfatizava o estado mental denominado tecnicamente de satori – a experiência da iluminação -, pois achava que não era esse o elemento do Zen que importava acentuar.
Introdução
Richard Baker escreveu está seção e sintetiza o livro em: instrução de como praticar o Zen, a vida Zen e a atitude e compreensão Zen - e no restante desta seção comenta sobre este livro de Shunryu Suzuki.
Prólogo
Shunryu Suzuki começa: “As pessoas dizem que é difícil praticar, mas a um mal entendido quanto ao 'porquê” e complementa “É difícil porque é árduo manter a mente pura ou a prática pura em seu sentindo fundamental.” (p. 19). Logo depois, aborda que “O objetivo da prática é conservar nossa mente de principiante.” (p. 19).
PRIMEIRA PARTE – PRÁTICA CORRETA
Postura
Este Capítulo detalha a postura para o zazen, colocando como o mais importante dessa, está em colocar “a coluna reta” (p. 24). Ele aborda também o simbolismo da postura, que representa a não dualidade: “nem um, nem dois” (p. 23).
Ao ir adiante e lembrar uma passagem anterior texto, vemos um paradoxo – inicialmente se diz que o Zen busca uma “mente de principiante” (ver “Prólogo”), depois nesta seção, Suzuki afirma sobre a postura da meditação Zen: “Estas formas [modo de sentar] não são meios para obter um estado mental correto.” (p. 24) - não seria a “atitude de principiante” um “estado mental correto”? E o paradoxo continua com a frase seguinte (p. 25): “Assumir a postura já é, em si o propósito da nossa prática.”. A reflexão desses trechos ilustra um, dos muitos, paradoxos encontrados no Zen.
Em seguida, Suzuki nos convidada a adotarmos a “postura correta” não só no zazen, mas em todas as atividades.
Respiração
Capítulo dedicado ao que modernamente será chamada de mindfulness, mais especificamente a prática da “atenção focada na respiração”. Apresenta-nos a ideia de “não eu” e da respiração como um estado de não dualidade, “uma porta de vaivém”, além do paradoxo que somos dependentes e independentes ao mesmo tempo.
Controle
Em “Controle” ele discursa sobre a impermanência, a impossibilidade de controlarmos os outros e o paradoxo que para si ter “controle”, precisamos estar em um estado de desapego e nos explica que o propósito do Zen está em “ver as coisas como elas são e deixar que tudo siga seu curso” (p. 31).
As Ondas Mentais
Já “As Ondas Mentais”, Suzuki, nos fala sobra a atitude de “deixar ir”, o paradoxo de interior e o exterior e a diferença entre a pequena e a grande mente.
As Ervas Daninhas da Mente
Aqui é usada a metáfora das “ervas daninhas” que as arrancando e depois enterramo-las “junto às plantas para nutri-las” (p. 35), assim não devemos nos incomodar com a mente, a percepção da mente fomenta o progresso da prática. Após a ilustração metafórica, passa-se para a importância do esforço despegado.
O Cerne do Zen
Neste Capítulo, as imperfeições são posicionadas como o que trará o florescer na vida, a compreensão do “cerne”, da “essência” do Zen.
Não Dualismo
Apresenta em “Não Dualismo” o paradoxo estar sem ideia de ganho e ter algum propósito e discorre sobre a “não dualidade” ou “não dualismo”.
Reverência
O Capítulo “Reverência” nos relata sobre se prostrar (reverenciar), a relação disso com ir em direção ao não dual, da reverência com a grande mente e a atitude de “aceitação”.
Nada Especial
Coloca-se aqui o zazen como uma expressão de nossa natureza e do propósito de manter a prática para sempre e de que essa prática nos leva à percepção dessa natureza.
SEGUNDA PARTE – ATITUDE CORRETA
O Caminho-Uno
Esta palestra tem o propósito de expressar o apreço de Suzuki pela prática Zen e conclui como importante expressar a natureza de si de “forma natural e apropriada” e o fazer pelo próprio fazer, como forma de expor essa natureza.
Repetição
Versa sobre a forma de pensar e praticar da Índia e como o Buda contrapõe a essas formas. E também a busca para saber como as pessoas poderiam se tornar iluminadas.
Zen e Empolgação
Suzuki (p. 56) aconselha a não empolgarmos com o Zen e que basta “continuar a prática de maneira calma e regular (…) [assim] seu caráter ira sendo construído.”.
Esforço Correto
Aqui o assunto gira em torno do “esforço correto” e – percebo – o paradoxo do esforço e não esforço – devemos nos esforçar e, ao mesmo tempo, simplesmente fazer, sem nos esforçar é o suficiente.
Sem Deixar Rastros
Sobre fazermos as nossas ações com a mente clara, o deixar da multitarefa e concentrar, focar em apenas uma coisa por vez para cada momento e estar com todo o corpo e mente, no fazer do zazen.
O Dar de Deus
Toca se no tema do pequeno “eu” e grande “eu” e a unidade desse último “com todas as coisas” (p.64), ao dar algo, você se sente bem e o desapego. Continua sobre os três tipos de criação: (1o.) tomar consciência de nós após o zazen, (2o.) quando você ou produz algo e (3o.) o criar algo dentro de si mesmo.
Erros na Prática
Fala das formas impróprias de praticar o zazen – por exemplo: competindo com outra pessoa. A possibilidade de encontra dificuldades na prática e como lidar com elas.
Limitando sua Atividade
A ausência de metas no Zen e que mesmo assim saberemos o que fazer. Além disso, a prática do Zen “não tem nada a ver com crenças religiosas” (p. 71).
Estudar a Si Mesmo
Este Capítulo considera o estudo de si mesmo como propósito do budismo, explica como funciona o ensino no Zen e o ensino de Rinzai (um dos primeiros mestres de Zen chinês).
Polir uma Telha
Começa apresentando a ideia de koan, passa-se um koan que pretende ensinar a ideia de que qualquer coisa que se faça é zazen. Coloca-se outro koan, dessa vez sobre a existência ou não de problemas.
Constância
Versa-se sobre o esforço correto, ter mente pura e clara – a vacuidade -, aceitar as coisas como elas são e o conceito de (nin (“constância” em japonês).
Comunicação
Como o título, este capítulo fala sobre comunicação, sobre entender a linguagem do mestre e “a realidade como experiência direta” (p. 83), sobre como ouvir alguém, a comunicação entre pais e filhos, a maneira própria de expressar de um mestre Zen e o expressar livremente.
Negativo e Positivo
Considera a dificuldade de falar da dificuldade de falar sobre o “caminho”: nisso a impossibilidade falarmos ao mesmo tempo sobre o lado negativo e positivo, da escola Soto como um caminho de duplo sentido – negativo e positivo. O como ouvir, o apenas ouvir, e o como alcançar a grande mente Mahayana.
Nirvana, a Queda D'água
Expressa com a metáfora da água una que se divide e que nessa divisão passamos a ter sentimentos e por esses existirem, temos dificuldades. A volta à unidade e atingir o nirvana
TERCEIRA PARTE – COMPREENSÃO CORRETA
O Espírito Tradicional
Expõe como central ao Zen a prática e principalmente a postura e respiração, colocando a compreensão filosófica em segundo plano ou importância. Segue explicando sobre a “iluminação súbita”, o conceito de não-ego (ou não-eu), o propósito da prática como parar “o rodopio da nossa mente cármica” (p. 96), o “esforço correto”, a “iluminação” e finaliza abordando o espírito tradicional.
Impermanência
Expressa sobre a “mudança” ou “impermanência”, a importância de aceita-la.
A Qualidade do Ser
Coloca cada existência como mais que uma expressão da qualidade do ser. Fala sobre os opostos complementares de “tranquilidade” e “atividade”. Versa sobre a “harmonia”, sobre o paradoxo de sermos o “mesmo”, e no entanto, “diferentes”. Ainda diz que “os frutos de sua prática [do zazen] estão contidos no seu sentar.” (p. 103). Termina narrando sobre a iluminação de Dogen.
Naturalidade
Explana sobre dois tipos de “naturalidade” e discorre sobre eles.
Estar Alerta – Estar Consciente
Aborda o conceito de “vacuidade” e que a compreensão dele diminuiu o sofrimento.
Acreditando no nada
É sobre acreditar no nada, os pensamentos egocentrados e aceitação.
Apego e não apego
Coloca o “zazen e a atividade diária” (p. 115) como uma única coisa e unicidade, assim como a diversidade como maravilhosa é a mesma coisa – e acrescenta a esses paradoxos o de que o apego-Buda é um não apego.
Quietude
Percebemos a perturbação antes da quietude e devemos praticar zazen sem procurar por algo e paradoxalmente a “tentativa de fazer alguma coisa já é iluminação.” (p. 119).
Experiência, não Filosofia
Contrasta o budismo como filosofia e como prática e que de modo puro, ele está como prática, a importância de praticar o zazen em grupo e a desnecessidade de intelectualizar sobre nossa natureza pura.
Budismo Original
Detalha o que seria o zazen, a impossibilidade de comparar o budismo com outros caminhos e as diversas escolas de budismo.
Além da Consciência
Discursa sobre diversos assuntos, mas basicamente sobre olhar, observar o mundo como ele é.
Iluminação do Buda
Fala sobre o zazen e de tudo como “tudo do jeito que é” (p. 128) como caminho de Buda.
Crítica
O livro faz ponte entre o Oriente, de Shunryu Suzuki, com Ocidente, em que ele viveu, trazendo outra cultura, a do Zen japonês, para o Oeste. Nisso tive dificuldade de compreender a mensagem veiculada pelas palestras informais de Suzuki, talvez pela diferença cultural – a diferença ocorre também, imagino, acentuada, pela leve, e levemente, pela distância temporal - e pela difícil linguagem, ou melhor, a transformação em palavras da experiência meditativa, que a linguagem aponta, mas só podemos compreender seguindo a na experiência – ou falando de outra forma – indo ao próprio “território”, quero dizer, fazendo a prática da meditação, meditando.
Recomendação
Considero este livro recomendado para todos aqueles que têm interesse no Budismo, e principalmente no Zen, no diálogo Oriente-Ocidente, e no mindfulness moderno – contribuição, que o livro leva, para compreender a sutil limitação da linguagem, quando se quer falar da experiência meditativa.
Referência
SUZUKI, Shunryu. Mente Zen, Mente de Principiante. Tradução: Odete Lara. São Paulo: Palas Athena, 1994.
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