quinta-feira, abril 23, 2020

A Raiva – Uma Revisão Bibliográfica - Parte 2: no Desvio Espiritual


Se você não leu a Parte 1, pode ler adiante e de forma independente da Primeira Parte


Sobre o livro


Esta resenha busca discursar focalizadamente sobre a “raiva” no contexto do “Desvio Espiritual”, tendo como base o livro “Desvio Espiritual: Quando a Espiritualidade nos Desconecta do Que Realmente Importa”, de Robert Augustus Masters, PHD - originalmente em inglês, entitulado de: “Spiritual Bypass: When Spirituality Disconnects Us from What Really Matter” - não conheço versão traduzida, para o português, deste livro.


Robert Augustus Master está como um “psicoterapeuta integral”, incluindo no seu trabalho: Corpo, Mente, Espírito e Emoções – além disso fala, segundo a perspectiva, da “Teoria Integral”, de Ken Wilber – sendo que existe uma citação-comentário desse último sobre o primeiro na capa do livro.


Robert Masters define “desvio espiritual” como: “o uso de práticas e crenças espirituais para evitar lidar com nossas sensações/sentimentos de dor, feridas não-resolvidas, e necessidades de desenvolvimento.” (p. 1). A “raiva” pode aparecer como “desvio espiritual” - apesar dessa ideia estar como a principal nesse artigo, abordamos a “raiva”, também sobre outros aspectos, fora do “desvio”, e “não espirituais”.


Fazendo uso Sábio da Raiva”


Abordemos, aqui, desse livro, apenas um Capítulo – o décimo primeiro - “Fazendo uso Sábio da Raiva” (originalmente em inglês: “11. Making Wise use of Anger”).


“Ter 'raiva' está considerado como incorreto” em diversos grupos e “isso está como verdade para a maioria dos ensinamentos Buddhistas” (p. 75). Segundo “isso a raiva não está sendo considerada como algo a mais do que agressão e reatividade hostil (…).” (p. 75).


“Sentimentos reprimidos não vão embora, porque agora somos espirituais. De fato, eles podem ficar piores.” (p. 76). A “raiva” pode nos “possuir” ou podemos “romantiza-la, racionalizando nossas pulsões 'naturais', para expressar nós mesmos, sem inibição em nome de liberta-las e da honestidade.” (p. 76).


“Nesses dois casos a raiva é tratada como um entidade endógena ou massa, uma coisa para ser amordaçada ou solta. O campo Psicoespiritual pode questionar sobre os perigos de solta-la ou guarda-la.” (p. 76).


“Não existe nada inerentemente errado ou ruim com a raiva; isto não é necessariamente um problema – um sinal de negatividade ou escorregão espiritual ou evitação de algo mais 'profundo' – ou um sinal de não importar ou cuidar.”. Podemos tomar duas atitudes em relação à raiva: nos culpar ou nos responsabilizar por ela.


Podemos “Exortar a desinibição para 'entrar dentro da raiva' pode nos levar justamente a uma forçada raiva de performance, que não nos leva a visão (insight) de cura, mas um simplista excesso de confiança (e possivelmente agressivamente-reforçador) processo catártico.” (p. 77).


“Contudo, não é tão fácil cultivar intimidade com a nossa raiva. Vindo a chegar perto de seu calor sem perder o contato com nossa sanidade básica.” (p. 77). Mas, podemos encontrar a “luz” da/na “raiva” e isso depende de como nos relacionamos com ela. Nós podemos tratar a raiva de diversas formas.


A “raiva” “não está como uma única emoção, mas ao invés disso uma família de [variadas] emoções relacionadas (...)” - por exemplo – “duas emoções como inveja e ressentimento, podem parecer muito similares, tendo muitas características fisiológicas em comum, ainda que difiram.” (p. 78). Além disso, está como importante “diferenciarmos sensações que associamos com raiva, da raiva em si.” (p. 79). Mais uma diferença importante, está em diferirmos “que raiva, não está necessariamente como o mesmo de agressão.” (p. 79). “A agressão envolve ataque, enquanto a raiva pode ou não [corresponder à 'agressão].” (p. 79).


Existem quatro “abordagens/aproximações” para “trabalhar com a raiva” (p. 80):


RAIVA-DENTRO: “refere-se a estratégias que favorecem a restrição e redirecionamento de energia característica da raiva crua. (…) esta abordagem advoga a ênfase a importância de não expressar diretamente a raiva.” (p. 81).


RAIVA-FORA: “refere-se a abordagens que enfatizam a importância de expressar diretamente e completamente (fully) as energias e intenções da raiva.”. Advoga “que raiva suprimida não está como saudável. (…) [e] superenfatiza a mera abordagem física a raiva” (p. 81).


RAIVA-MANTIDA-COM-CONSCIÊNCIA PLENA (originalmente: “MINDFUL HELD ANGER”): “refere-se a abordagens em que a raiva está como conscientemente contida ao invés de emocionalmente expressa, e participou meditativamente para uma chave de intenção de não suprimir a raiva e não atua-la. (…) essa abordagem oferece a solução para a dicotomia raiva-dentro/raiva-fora.” (p. 82).


RAIVA-CORAÇÃO: “refere-se as abordagens em que abertamente expressa-se raiva e consciente compaixão (…). Coloca junto as virtudes de raiva-dentro, raiva-fora e raiva-mantida-com-consciência-plena (…).” (p. 82).


A “raiva” está pode estar como “construtiva” ou “destrutiva” e nós temos a escolha se ela estará deste ou daquele modo. “Precisamos (…) deixar de ver isso [“a raiva”] como um problema ou obstáculo espiritual (…).” (p. 83).


Podemos levar compaixão à “raiva” “encontrando [a] (…) com consciência plena (mindfulness) (e genuíno cuidado.” e “precisamos (…) nos aproximar da raiva sem [atitude de] aversão, que significa ficar mais íntimo com qualquer julgamento que tenhamos disso.” - Master acrescenta - “não estar íntimo [com a raiva], está como uma escolha perigosa, nos deixando desligados/apartados do potencial positivo das muitas energias que pode tão facilmente virar agressão, ódio e mesquinharia.” (p. 83).


Temos várias possibilidades de lidar com a “raiva”, entre elas: (1) ter raiva da “raiva”, (2) rejeita-la, (3) nega-la ou (4) nos desconectar dela.


Está como possível treinarmos para “conhecermos mais nossa raiva e quanto mais apto estamos em expressar isso [a “raiva”], estamos mais propícios a habilidosamente lidar com a raiva dos outros.” (p. 85).


E o Capítulo conclui e finaliza (p.87):


Por muito que gostaríamos de pensar de outro modo, a raiva não desaparece quando evoluímos ou despertamos; de fato isso pode vir a estar mais ardente, mas queima mais e mais claramente, limpando o templo do que não pertence a lá e servindo ao bem-estar de todos os envolvidos. Então, não faça como objetivo, a alcançar, o de desviar a raiva a todo custo. Aspire a algo mais vital: uma clara, consciente, completamente viva raiva, raiva que flameja e sangra, raiva coração.

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